Correspondente italiano divide experiências com alunos e professores

Antonangello Pinna conta sobre seu trabalho como subeditor. (Foto: Fernando Turri)

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Antonangello Pinna conta sobre seu trabalho como subeditor. (Foto: Fernando Turri)

O jornalista italiano Antonangello Pinna veio hoje (06) à ESPM–SP para contar, a alunos e professores, sua trajetória como correspondente internacional. Falou sobre o trabalho do jornalista, as lições que aprendeu e as diferenças entre o jornalismo italiano e o norte-americano. A seguir, principais trechos de seu depoimento:
“Por influência de um tio, comei a cursar Direito, mas me reconhecia como jornalista. Comecei a trabalhar na agencia americana de notícias The Associated Press que, na época – anos 60 – era a melhor “escola” de jornalismo do mundo. Foi lá que entendi como construir as notícias de uma maneira compreensível aos leitores, independentemente do tamanho do texto. Aprendi a fazer jornalismo com fatos separados das opiniões e as seis perguntas bases do jornalismo (O quê?; Quem?; Quando?; Como?; Onde?; Porquê?).
Na minha época, o jornalismo italiano seguia e ainda segue uma linha diferente. Tradicionalmente, os textos não trazem tanta informação e sim a opinião dos jornalistas. Também é comum que veículos italianos criticarem políticos de esquerda e de direita, independentemente de sua ideologia.
Aprendendo na prática

Voltei a Itália e, depois de alguns anos escrevendo matérias de pouca relevância e não assinadas, fui chamado para ser correspondente internacional, em Nova Iorque, do maior jornal semanal italiano da época, o Panorama. Acostumei-me a escrever cerca sete artigos por semana, sobre assuntos variados do mundo e formei minha rede de contados em setores variados. Foi quando aprendi que um correspondente não tem limites. O mundo é do correspondente.
Ted Kennedy (irmão do presidente John F. Kennedy) me ensinou, durante uma entrevista, lições das mais importantes para mim: que eu deveria gravar todas as minhas entrevistas e que jamais deveria mudar meus textos para atender os interesses do entrevistado. Já uma segunda grande lição veio do editor do The New York Times, Arthur Sulzberger, que me disse que é obrigação do jornalismo publicar uma notícia confirmada, independente de pressões políticas ou econômicas. Isso Sulzberger aprendeu quando, a pedido do presidente norte-americano John Kennedy, deixou de publicar uma matéria sobre o incidente da Baía dos Porcos (quando os EUA tentaram invadir Cuba, em 1961), antes que a operação acontecesse.
Isso foi muito importante para mim, pois é de praxe na Itália um viés mais servil do jornalismo. Assim, é de praxe que as entrevistas não sejam gravadas – para que os entrevistados possam desmentir as matérias – e, também é comum que as matérias sejam lidas pelas fontes antes da publicação.
Experiência

Minha carreira se desenvolveu rapidamente. De correspondente, cheguei a subeditor da revista Panorama. Mais tarde, passei a trabalhar na Europeo, uma revista que precisava competir com as grandes publicações italianas. Nossas armas eram as notícias quentes, publicá-las antes, sermos criativos e brilhantes – “crocantes”, como falávamos. Para mim, a vocação do jornalismo é a democracia, a crítica uma de suas bases e o jornalista como “cão-de-guarda social”, que defende os interesses do povo.
Depois, passei para a L´Espresso, uma das grandes revistas italianas. Mantive meu trabalho de subeditor executivo e me preocupava com que os jornalistas fizessem bem seu papel e trouxessem notícias objetivas, sem partidarismo, verdadeiras e com fontes seguras.
Quando me demiti (no momento em seu editor de confiança também saiu da Europeo pela chegada de Silvio Berlusconi à chefia da empresa), achei que minha carreira tinha acabado por conta da idade, mas acabei trabalhando por mais um tempo como professor. Tentei ensinar meus alunos a buscar fontes fora dos circuitos tradicionais e mais visados, para encontrarem informações diferentes das já divulgadas.”
Confira os conselhos que Antonangello deixou ao final da conversa.

Taís Haupt (2º semestre)