Imagens da Sala Digital Band Google. Foto: Bianca Marcondes
Texto e fotos: Bianca Marcondes e Eloá Fernandes (2° semestre)
No dia 5 de agosto, alunos de Jornalismo da ESPM-SP assistiram à Aula Magna do curso sobre “Tecnologia digital na cobertura jornalística”. A aula, realizada no auditório Castello Branco, ministrada pelos jornalistas da Sala Digital Band Google, Igor Peixoto, editor executivo, e Babi Fava, jornalista multimídia e ex-aluna da ESPM-SP. Os dois jornalistas apresentaram a Sala Digital aos estudantes e explicaram como os dados de pesquisa do Google auxiliam na produção de conteúdo jornalístico, especialmente no planejamento de pautas que se conectem com o interesse do público.
No início da apresentação, Igor e Babi explicaram aos estudantes a parceria entre a Band e o Google para a criação da Sala Digital. “É um projeto do Google em parceria com uma mídia brasileira, a Band, que tem a proposta de criar conteúdo baseado numa única fonte, que é o Google Trends”, explicou Igor Peixoto. A equipe utiliza dados dessa ferramenta para mapear padrões de pesquisa e comportamento, a fim de planejar conteúdos que dialoguem com o interesse do público para diferentes programas e editorias da Band.
Como funciona a sala digital?
A equipe da Sala Digital é composta por três jornalistas multimídia (à qual Babi Fava faz parte), um jornalista de dados, o editor executivo (Igor Peixoto) e um editor de dados sênior, que auxilia na interpretação dos dados. Ao receber as informações do Google Trends, o time analisa as intenções dos usuários ao realizar buscas e planeja a melhor forma de responder às dúvidas.
Após a produção e exibição dos conteúdos, a equipe pode mapear a recepção do público e aprender a adaptar as futuras produções.“Quando produzimos uma reportagem original da Sala Digital e ela é exibida no Jornal da Band, provocamos o curador do Google a revisitar o assunto e, eventualmente, também o revisitamos três meses depois para atualizar”, contou Igor.
Casos exemplares
Para exemplificar esse trabalho, os representantes do projeto trouxeram a análise de alguns casos em que a Sala Digital atuou. Dentre eles, destacam-se pesquisas relacionadas às enchentes no Rio Grande do Sul, à qualidade do sono e à análise das principais perguntas feitas quando há desconfiança de uma traição.
No caso das enchentes no Rio Grande do Sul, a Sala Digital ainda não estava concretizada, porém o Google Trends já era utilizado para mapear o interesse do público. Ao analisar os dados, a equipe da Band percebeu que as principais buscas no estado apontavam para dúvidas da população sobre a recuperação de móveis e utensílios perdidos nas enchentes. De acordo com os jornalistas, a busca por informações sobre leptospirose — doença bacteriana transmitida por meio da exposição direta à urina de animais infectados — cresceu 300% no RS e 2.450% em todo o território nacional.
A base de dados do Google mostrou também que, desde 2004 — ano de início da coleta desses dados —, a busca por remédios para insônia nunca foi tão alta na sociedade brasileira. Peixoto explica que, mesmo que o dado por si só não seja usado diretamente para produção de conteúdo, é interessante observar o interesse das pessoas por esses medicamentos para pensar em possíveis conteúdos futuros que gerem engajamento.
Por fim, o trabalho da Sala identificou que perguntas como “Como saber se estou sendo traída?”, “Selinho é traição?” e semelhantes estão sempre em alta nos mecanismos de busca. Com base nesses resultados, a Sala Digital produziu uma reportagem em vídeo — exibida no programa Bora, Brasil — na qual Babi Fava responde a essas perguntas de forma bem-humorada e descontraída.
Tecnologia e ética no jornalismo digital
Com essas análises, Igor Peixoto e Babi Fava mostraram aos alunos a importância de integrar a tecnologia digital ao fazer jornalístico e aprender a adaptar o conteúdo para diferentes linguagens, formatos e públicos. “Com a Sala Digital, entendi que podemos nos aprofundar em muitos assuntos ao mesmo tempo e não de forma superficial. A plataforma permite que respeitemos mais a audiência”, contou Babi Fava.
Apesar das controvérsias envolvendo o uso de tecnologia digital no jornalismo — em especial, as inteligências artificiais —, é importante reconhecer sua contribuição para a otimização do tempo de trabalho. De acordo com Igor, o próprio mercado já está regulando esse uso naturalmente, utilizando as IAs para análise de grandes bases de dados, criação de padrões e síntese de informações. Entretanto, essas ferramentas não substituem a apuração e a escrita do jornalista.“Quando a calculadora foi inventada, ela agilizou muito o trabalho das pessoas, que não precisavam mais gastar tanto tempo fazendo contas. É exatamente essa revolução que estamos vivendo hoje. É uma calculadora que aumenta nossa produtividade, que nos permite produzir mais e melhor. Basicamente, ela ajuda a encontrar fontes que depois vamos à rua investigar e estudar para extrair informações”, explica o profissional.
Galeria de fotos: Bianca Marcondes e Eloá Fernandes