Nascida em Santo Ângelo, interior do Rio Grande do Sul, Renata Bonfiglio Fan apresenta o programa Jogo Aberto, que vai ao ar de segunda a sexta, transmitido pela Band. A gaúcha de 35 anos e torcedora fanática do Internacional foi a primeira mulher a mediar uma mesa redonda e já ganhou diversos concursos de beleza, entre eles a edição do Miss Brasil de 1999. Antes de ter o próprio programa esportivo, um de seus principais trabalhos foi a apresentação do Terceiro Tempo, ao lado de Milton Neves.
Portal de Jornalismo ESPM – Seu passatempo era montar peças teatrais. Você nunca pensou em seguir a carreira teatral?
Renata Fan – Quando adolescente, no colégio, eu exercitava bastante o lado artístico com as minhas colegas. Nós fizemos algumas montagens na escola e concorremos com pessoas mais velhas. Conseguimos o primeiro lugar e ganhamos vários festivais, mas era uma coisa de passatempo, de poder brincar, exercer o lado criativo. Mas realmente, eu prefiro poder levar adiante aquilo que eu penso de verdade. Como atriz, você está sempre encarando um papel novo, uma figura diferenciada. Esse não é o meu caso. O lado artístico ficou mesmo na adolescência e o jornalismo acabou vencendo essa batalha.
PJ ESPM – A sua primeira faculdade foi direito. O que te levou a trocar a área jurídica pelo jornalismo?
RF – Toda a minha família tem uma ligação jurídica. Meu pai e meu irmão são advogados e tenho parentes promotores e juízes. Todo mundo tem uma tradição jurídica e eu tenho certeza que, se eu tivesse continuado no direito, eu teria sucesso. Seria uma pessoa extremamente dedicada, estudiosa, batalhadora. É uma área que nunca deixou de exercer uma atração em mim. Mas eu sempre gostei de comunicação; foi uma escolha. Encarei uma segunda faculdade, topei uma coisa complicada, difícil. Eu morava no Rio Grande do Sul, vim para São Paulo e, em seguida, passei um ano em Divinópolis, em Minas Gerais, onde cursei meu primeiro ano de jornalismo. Não era porque eu não gostasse do direito, era que eu achava que eu seria mais plena, completa e realizada fazendo algo mais expansivo, com menos prazos, com menos burocracia. E o jornalismo não deixa de ser uma área de muita liberdade, onde você toma a decisão naquilo que você opina, naquilo que você conversa e transmite para as pessoas. Mas quem sabe, no futuro, eu não volte a exercer ou faça alguma coisa relacionada à área jurídica? Foi um aprendizado; foram cinco anos da minha vida que exercem uma influência no que sou até hoje.
PJ ESPM – Como foi trabalhar na Rádio Transamérica, de Santo Ângelo?
RF – Na rádio, eu era pura e simplesmente locutora, não tinha um programa específico. Eu chamava toda a programação de música e gravava os comerciais. Foi a primeira vez que eu testei minha capacidade profissional, foi meu primeiro emprego e, justamente, numa área de comunicação. Esse primeiro emprego teve uma influência muito grande na hora da decisão pelo jornalismo. Eu gostava do microfone, era bastante desembaraçada e não era tímida. Foi maravilhoso!
PJ ESPM – E no programa Golaço, da Rede Mulher?
RF – O Golaço foi uma chance que eu devo ao Milton Neves, que acreditou no meu potencial. Ele trabalhava comigo na Record, comprou esse espaço e disse: “gaúcha, é você quem vai apresentar quando eu não estiver aqui”. Em vários momentos, eu apresentei e comecei a exercer essa função. Percebi que eu tinha condições, que realmente era possível fazer esse trabalho de apresentadora. Talvez o Golaço tenha sido realmente o momento exato em que eu tomei a decisão de querer uma mesa redonda, de achar que eu tinha condições de apresentar um programa extremamente masculino, que eu poderia ter meu espaço e ser respeitada por isso. Ainda bem que eu não errei nessa decisão, que realmente o fato de eu ter escolhido a Band, de ter topado ser a protagonista, funcionou. Esse é meu principal objetivo de vida até hoje.
PJ ESPM – Você trabalhou no programa Tele Domingo, da RBS TV, apresentando os principais eventos culturais do fim de semana. O que você aprendeu trabalhando nessa área?
RF – Aprendi muito pouco porque eu fiquei só três meses nesse programa. Eu morava em Santo Ângelo e tinha que viajar para Porto Alegre. Era um momento de tensão e muito nervosismo. Eu não sabia como me comportar e não tinha experiência em televisão. O que esse programa me deixou como herança foi justamente a confiança de que televisão seria o meu futuro. Tomei a decisão de que queria televisão, mas eu queria me qualificar mais, fazer faculdade para melhorar. Queria evoluir pra então ocupar um espaço em TV e foi o que aconteceu.
PJ ESPM – Você sente que existe um preconceito com você pelas pessoas pensarem que você está onde está mais pela sua beleza do que pelo conteúdo que você pode gerar?
RF – Talvez no começo. Imagina, em 2007, uma mulher apresentando uma mesa redonda todos os dias. Mas vai passando o tempo e você faz esse programa ao vivo, usando suas próprias informações. Você se atualiza, as suas opiniões são divulgadas, difundidas e as pessoas vão percebendo que você não tá ali brincando. Tenho certeza que hoje poucos homens veem tantos jogos quanto eu. Mas realmente nada melhor do que você se consolidar numa área em que a dificuldade é maior. Como o futebol ainda é predominantemente masculino, o orgulho, a realização e a vontade de fazer algo diferente e vencer nessa área é cada vez maior. Na verdade, eu não vejo como um preconceito. No início, talvez uma desconfiança, mas depois de quase sete anos apresentando praticamente todos os dias um programa, vejo que as coisas foram facilitadas pelo meu desempenho.
PJ ESPM – Você se considera um marco para as mulheres no jornalismo esportivo por ser a primeira mulher a mediar uma mesa redonda?
RF – Não um marco, mas um exemplo, um parâmetro. Alguém que teve coragem, que acreditou num sonho e transformou tudo isso em uma realidade e que trabalha muito até hoje. Eu acordo às 5 da manhã. Sou uma pessoa plenamente envolvida com o meu trabalho, não só na hora em que o programa está sendo levado para as pessoas, mas o dia inteiro. Eu sou feliz, escolhi essa profissão e tenho muito orgulho disso, mas não sou melhor do que ninguém, apenas obtive um espaço e consegui mantê-lo.
PJ ESPM – Como você lida com esse estereótipo de “mulher tem que lavar louça”?
RF – Adoro! Qual o problema? Quem não lava louça? Homem lava louça, criança lava louça. As pessoas querem me xingar com isso e não tem efeito nenhum! Na verdade, eu sei que hoje muitos homens acompanham futebol de uma maneira leve e muitas mulheres estão batendo um bolão nessa área. Elas estão falando de futebol, jogando futebol e desempenhando grandes funções ligadas ao futebol.
PJ ESPM – Você acha que as mulheres vêm ganhando espaço no jornalismo esportivo ou ainda há uma resistência dos grandes veículos de informação na contratação delas?
RF – Vêm ganhando espaço, mas elas vêm ganhando espaço naquilo que é preparado, programado, e menos na opinião. Eu gostaria de ver mulheres comentaristas, opinando mais, fazendo um programa onde elas possam ter realmente um ponto de vista e que sejam respeitadas por isso, não apenas porque fazem uma reportagem, porque fazem algo editado. Mas as mulheres evoluíram muito nessa área. A participação feminina cresceu absurdamente e é uma tendência hoje irreversível: as mulheres já estão no futebol e vão permanecer.
PJ ESPM – O seu trabalho afeta muito a sua vida pessoal?
RF – Bastante. Eu me dedico 70% ao meu trabalho e 30% à minha vida pessoal, essa é a equação que eu faço. Eu gostaria de equilibrar mais.
PJ ESPM – Quais são seus planos para o futuro?
RF – Eu pretendo ficar mais uns anos ainda no futebol, quero fazer mais a Copa do Mundo 00, trabalhar até as Olimpíadas de 2016. Depois, trabalhar mais um ou dois anos fazendo um programa para o público feminino, mais um desafio, algo novo na minha carreira e depois me aposentar.
Carolina Pimentel (1º semestre)