Amor contra o terror

Pátio da Mesquita do Sultão Ahmet, conhecida como Mesquita Azul | foto divulgação

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Marina Ayub
“De vós deve surgir uma nação que pregue o bem, e recomende a probidade, e proíba o ilícito. 
Esse é o caminho da vitória.” 
Alcorão, 3:104
»»» Shahada significa aceitar a profissão da fé; Maomé é o enviado de Deus. Salat: orar diariamente. Zakat é o ato de fazer caridade e ajudar ao próximo. Sawn: jejuar durante o Ramadã, o mês sagrado. Hajj é a perigrinação para a cidade de Meca.

Pátio da Mesquita do Sultão Ahmet, conhecida como Mesquita Azul | foto divulgação

Essas são as cinco principais práticas do islamismo, que regem os fiéis da religião monoteísta guiada pelo Alcorão, o livro sagrado. Há, também, os cinco pilares fundamentais: a unicidade de Alá; a justiça de Deus; o profetismo do Islã (levar a mensagem); o imamato (há 12 descendentes de Maomé, os imames, e acredita-se que o último ainda aparecerá na cidade de Meca); e a espera pelo dia do juízo final.
Atualmente, no entanto, propaga-se muito sobre a violência que grupos como Estado Islâmico, Al Qaeda e Boko Haram praticam. É o que se vê diariamente no noticiário.
Uma mulher de meia idade que entrasse com vestes islâmicas em um tradicional café de Paris não receberia tantos olhares examinadores. Mas isso foi antes. Antes do islamismo ser tão deturpado. Antes de meninas serem repreendidas por usarem roupas longas demais.
Rodrigo Jalloul, de 29 anos, é o primeiro Sheik (título de honra para líderes e clérigos islâmicos) brasileiro. Formado no Irã, no seminário teológico de Qom – a maior convenção de xiismo no mundo, estudou lá por quase oito anos.
Descendente de libaneses sunitas, o Sheik foi batizado na igreja católica e por um período não seguiu religião alguma. Depois de pesquisar sobre suas origens islâmicas, ele passou a frequentar mesquitas e decidiu que gostaria de realizar algo inédito no Brasil: falar em nome do xiismo. Hoje, trabalha voluntariamente ajudando comunidades e dando palestras sobre o islamismo.

Mesquita Yeni, em Istambul | foto divulgação

Rodrigo explica alguns preceitos do islamismo e também a incompreensão que existe no imaginário coletivo atualmente. Apesar de ter 1,6 bilhão de fiéis no mundo, sendo a segunda maior religião em quantidade de seguidores, Sheik Rodrigo afirma que muito do preconceito que existe hoje com os muçulmanos vem de seitas específicas, como o Wahhabismo.
“Há 300 anos, a Inglaterra foi palco de um grande crescimento desse movi-mento ultraconservador. O atual governo da Árabia Saudita, que priva a mulher de estudar e dirigir, é wahhabita.” Jalloul explica que grupos como Estado Islâmico surgiram de ramificações do wahhabismo.
Rodrigo conta também que em regiões dominadas pelo Daesh (ou Estado Islâmico), os grupos que mais morrem são os próprios combatentes muçulmanos, além da parcela cristã. “Tudo isso faz com que muitos pensem no islamismo como violento, o que é falso. O islamismo prega amor, paz e caridade ao próximo”, completa
O Sheik afirma ainda que as religiões não respondem pelo ato de cada um. Em todas elas, há pessoas pacíficas e há pessoas que cometem crimes.
Em relação ao islamismo no Brasil, Rodrigo Jalloul afirma que ele tem crescido muito e hoje chega a um número de 2 milhões de pessoas: “É o segundo país no continente americano com mais muçulmanos, perdendo somente para os EUA. O número de mesquitas não é tão grande. Mas há centros culturais, as chamadas musallas. Nas cidades do interior elas são muito comuns.”
“No Brasil, há liberdade de expressão, e os brasileiros são interessados na cultura árabe, o que influencia no crescimento do islamismo. É uma religião muito respeitada aqui”, completa o Sheik brasileiro.